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O Homem da Multidão – Por Alan

outubro 1, 2010

Antes de falar do texto, vamos relembrar o que significa Público, Massa e Multidão.

1. “A característica do público é ser racional e defender sua individualidade. Enquanto na multidão, o indivíduo quer ser anônimo, já a massa, o sujeito que ser igual aos outros, no público ele quer ser ele mesmo.”

2. “Multidão é definida como um grupo de pessoas que agem por impulso, embora havendo um indivíduo que atua de forma consciente ou não, para incitar os demais (pessoas que compõem a multidão) criando ações de acordo com uma situação.”

O Homem da Multidão

            “O Homem das Multidões” é narrado por um homem que vai a Londres fazer um tratamento de saúde e se diverte observando, do saguão do hotel “Café D…, em Londres”, a multidão que passa na rua.

O narrador diz estar sentado no interior de um ambiente diante de um vidro, com um charuto e um jornal, e complementa contemplar atentamente os anúncios, as pessoas que enchiam o salão do hotel ou os que passavam pela rua. No primeiro momento, o personagem narrar observar dois grupos de pessoas passando, seriam as que compõem a massa indistinta. Devido as roupas, o jeito de agir, de andar, entre outros, são os “sintomas” de forte identificação da massa, pois a mesma se deixa levar pela moda, mídia ou a quem tomam como referência. Pouco mais adiante, o narrador descreve mais detalhes de outra parte das pessoas que por ali passam e consegue ver padrões de roupas, comportamentos, jeitos de andar. Vários públicos se descortinam à sua frente: escreventes, homens de negócio, advogados, homens de lazer, entre outros. O fato de demonstrarem serem pessoas críticas, conceituosas, retrata comportamentos característicos de público.

O que realmente chama a atenção do protagonista é um homem entre 60 e 70 anos. Sua fisionomia apresenta um misto de triunfo, alegria, terror e desespero, “Nunca havia visto coisa que se parecesse, mesmo que remotamente”. A impressão causada pelo personagem é tão forte, que o narrador passa a segui-lo. O homem envereda pela rua repleta de gente e, chegando à praça, passa a andar em círculos, confundindo-se com a multidão. Quando o fluxo diminui, o velho se sente angustiado e procura outra multidão e assim faz durante toda a noite sua busca por agrupamentos humanos.

A característica de “multidão” pode ser visto no próprio narrador, que segue o homem apenas na curiosidade de saber algo que nem ele sabe descrever com clareza. O psicólogo Italiano Sieghele trabalha o conceito de multidão “como agrupamento geográfico e resultado de uma sugestão, como se seus integrantes estivessem sonâmbulos, hipnotizados. Em toda multidão há condutores e conduzidos, hipnotizadores e hipnotizados”. Já o homem da multidão pode ser dito como homem-massa, incapaz de estar só, mas também incapaz de criar relacionamentos profundos. Sua única aspiração era ser aceito pelo grupo, mesmo que para isso precisasse sacrificar sua identidade, ou seja, ele pode ser dito como massa por ter certo conceito crítico, saber o que quer, mesmo que saiba apenas o que a lhe é imposto pela sociedade, meio em que vive.

Fisiologicamente, o comportamento de massa é identificado o complexo límbico, a camada do cérebro característica de mamíferos e que governa o instinto de rebanho. Assim, a aspiração máxima do integrante da massa é ser aceito pelos seus pares. Ele fará qualquer coisa para se adequar e procurará repetir os outros em tudo. É o famoso Maria vai com as outras.

No final, o narrador o abandona a perseguição com um comentário: “Esse velho é o tipo e o gênio do crime profundo. Recusa estar só. É o homem das multidões. Seria vão segui-lo, pois nada mais saberei dele, nem de seus atos. O pior coração do mundo é mais espesso do que o Hortulus Animae e talvez seja uma das grandes misericórdias de Deus o fato de que ele jamais se deixa ler”.

2 comentários

  1. O homem da multidão é um conto bem propício para os nossos estudos em sala de aula. Reflete bem os conceitos que aprendemos acerca de agrupamentos humanos e comportamento do indivíduo. Mas julgo que de fato o homem da multidão em questão no texto tem uma contradição em seu agir.Se ele recusa-se a estar só, por quê não aceita o contato direto(interpessoal) de outras pessoas? Torna-se então um agente com característica de multidão, que quer continuar participando de determinado evento, porém nem ele mesmo sabe o porquê.Na narração vemos que a caminhada do homem não segue um lógica, um traçado.Ele apenas caminha, caminha, chega até mesmo a correr para estar em meio aos outros.O simples fato de pensar em não estar infiltrado com outros o deixa angustiado.Ele anda, como se seus olhos estivessem tapados com tapadeiras de burro, para que eles olhem somente pra frente, sem pensar em nada.O homem da multidão ao meu ver não pensa, só age.


  2. Muito bem construído seu texto Allan, especialmente pelo fato de você diferenciar os conceitos de massa, público e multidão para os leitores terem uma noção melhor do assunto. Não sei se estaria equivocada ao fazer meu comentário, mas ao lembrar do que a professora Cássia falou em sala de aula – “nós não somos, nós transitamos” – me fez questionar a sua identificação de público. Embora saibamos que quanto mais estudada for a pessoa, maior a probabilidade de se posicionar criticamente frente aos acontecimentos da vida (em especial na área em que o indivíduo atua), isso não seria fator determinante para dizer se alguém é publico ou não. Em “O homem da multidão”, o narrador faz uma leitura minuciosa de todos os elementos que possam comunicar algo sobre os indivíduos analisados e assim descobrir o grupo social a quem pertencem, a profissão, a condição financeira, a cultura, a personalidade, dentre outros, mas não relata em suas observações a existência de alguma controvérsia que pudesse confirmar que naquele momento alguém se enquadraria na condição de público. Se caso estivéssemos naquela multidão e o narrador nos identificasse como publicitários, seria o suficiente para dizer que somos público? Ou seria necessário algum posicionamento explicito da nossa parte?
    Fica aí a pergunta.



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